sábado, 12 de julho de 2008

INTRODUÇÃO - 2 e 3

2
1 O relógio digital de Acácio marca 19:16 h. É quando a celebração finalmente principia na casa de dona Salomé e os primeiros cânticos soam pela sala. Então, disfarçadamente e sem levantarem suspeitas, as crianças saem. Inicialmente, Frígia e Wendy. Após alguns minutos, Acácio e Ulisses. A noite será realmente incomum.
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2 Frígia e Wendy, que estão bem à frente, já se aproximam da conhecida curva da mangueira. Os garotos apressam então o passo para alcançá-las, pois tudo deve ocorrer dentro do tempo previsto para evitar problemas.
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3 – Noite silenciosa... Essa... – arqueja Ulisses em tom ansioso. – Você trouxe as lanternas?
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4 – Estão na mochila – responde Acácio. – As meninas devem tê-la achado a essa altura.
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5 Na verdade, não. Frígia e Wendy chegam nesse momento a curva da mangueira e, atrás de uma enorme pedra próxima à árvore, encontram a mochila deixada ali por Acácio às dezoito horas.
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6 – Bem, Wendy... – ela fala e respira fundo antes de pôr a mochila nas costas. – Agora não tem mais jeito. A casa que nos aguarde!
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7 Wendy sente um calafrio percorrer o corpo e tem a terrível impressão de que esta noite será uma das mais loucas de sua vida.
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8 – Se eu pudesse, voltaria. Não é nada interessante essa história de sairmos à noite, escondidas, atrás de fantasmas e assombrações.

9 Frígia olha carinhosamente para a amiga e vendo sua face iluminada pelo palor do luar, toca-lhe os ombros e tenta encoraja-la:

10 – Não irá acontecer nada, Wendy. É só uma simples casa, você verá. Estou convencida de que não passa de superstição e lenda tudo que ronda sua reputação. Deve haver explicação plausível para os fatos. E vamos esclarecer isso logo mais.

11 Wendy sente uma espécie de força mágica que vem de sua melhor amiga. É impressionante, mas Frígia é assim. Uma garota especial, cheia de encanto, porém muito decidida, não arredando o pé dos seus planos e das suas idéias. E capaz de tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar tanto a família quanto os amigos e as amigas. Desse modo, Wendy não pôde recusar a proposta-convite de Frígia, mesmo atemorizada com a possibilidade de entrar naquela casa assombrada.

12 Frígia tem uma determinação indomável na hora de buscar respostas. Embora ela e Acácio não tivessem achado uma mínima explicação para a enfermidade de André e Eliane, nada abalava a convicção da garota de que aquele mistério era algo que a ciência e particularmente a medicina ainda não dominavam e conheciam. Para Frígia tudo tem uma causa, uma razão, um motivo de ser. E agora, tanto quanto Acácio, ela buscava respostas racionais para as especulações em torno da casa “mal-assombrada” do Jatobá.

13 É certo que há respostas que ainda não tiveram sua chance de vingar por que as perguntas não foram sequer formuladas. Mais certo ainda é dizer: para todas as perguntas há uma única resposta; e depois de encontrá-la, toda pergunta torna-se sem fundamento.

14 Neste momento, Frígia e Wendy caminham lentamente, retardando os passos, esperando a chegada dos garotos. A noite está silenciosa e apenas se escuta aqui e acolá o barulho da leve brisa balançando alguns galhos com suas folhas além do chirriar distante de uma coruja.

15 Wendy retira seu pequeno terço e sussurra o primeiro pai-nosso, quando se ouvem passos acelerados aproximando-se. E ela suspira aliviada ao vislumbrar Acácio e Ulisses: 16 – Pôxa!... Vocês demoraram.

17 – Na verdade, tudo está dentro do tempo que calculamos, imaginando-se algum imprevisto ou dificuldade - explicou-se Acácio.

18 - E houve alguma coisa? - interrogou Frígia.

19 - Nada demais! - responde Ulisses - Apenas tivemos que nos esconder na pedra da mangueira, quando vimos seu Arnaldo se aproximando ao longe.

20 - Nossa! O seu Arnaldo?! - Wendy, junto aos lábios, enclavinhou os dedos - Será que ele viu...

21 - De forma alguma, podem ficar tranqüilas - interrompeu Acácio - ele nem imagina o que está acontecendo agora. Vamos, então?

22 Os quatro amigos partem e em cinco, seis minutos estarão diante da casa abandonada.

23 Mas vejamos... Seu Arnaldo é um senhor dos seus oitenta anos, ainda vivaz e bastante saudável, uma figura bacana da região. Sempre sorridente, ele brinca com todos, principalmente com as crianças. Ele mora no sítio Varjota, povoado vizinho ao sítio Jatobá, mas se anda um bocado para chegar em sua casa. E por que ele estaria ali àquela hora da noite?

24 Ora, seu Arnaldo deve ter vindo visitar a filha, Sebastiana, e deve dormir no Jatobá esta noite. Os gêmeos nascidos em junho deixaram o avô muito satisfeito. Não perde uma boa oportunidade para revê-los constantemente. Esta é uma noite agradabilíssima para caminhar e visitar parentes e amigos.

25 Caso seu Arnaldo perceba alguma criança fazendo algo suspeito ou errado, não vacila e avisa aos pais ou responsáveis. Não pelo prazer de fofocar ou denunciar, pois seu Arnaldo teve filhos e, hoje, tem netos. O que ele deseja é evitar problemas para todos, sejam pais, filhos ou netos.

26 Além disso, seu Arnaldo procura aconselhar as crianças e os pais. Assevera que a boa conversa é um bom caminho e que o exemplo é fundamental para o comportamento e as atitudes de uma criança. Ele não condena nem critica. Acima de tudo, exorta e pede a todos bom senso e responsabilidade.

27 Seu Arnaldo é um misto de sábio e santo, porque pôs e ainda põe um pouco de juízo na cabeça dos desorientados, já salvou vidas e também evitou assassinatos. Alguns desses casos, relatarei a você mais adiante. E então compreenderá os motivos desse homem ser considerado sábio e santo. Um senhor de oitenta anos, que nem sequer concluiu o equivalente ao primário em sua época, entretanto, uma mente esclarecida e brilhante, mais do que a mente dos políticos do Cedro e de vários municípios do cearenses, aquelas figuras raras que você encontra na vida terrena. Acho que você sabe do que estou falando, não é?

28 No entanto, retornemos às crianças, afinal, elas enfrentam agora a pequena ladeira e, mais adiante, as margens da estrada de terra começam a se encher de árvores, o que produz sombras sobre nossos investidores de mistérios.

29 Em um minuto e meio, alcançam o portãozinho de madeira e ainda sobem uma pequena elevação.

NA SEGUNDA-FEIRA, A INTRODUÇÃO ESTARÁ COMPLETA!





marcos kalzone


UM ESBOÇO DE CAPA FEITO NO POWER POINT PELO AUTOR EM ABRIL DE 2007

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